quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O estrangeiro

  "Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi um
telegrama do asilo:
"Sua mãe falecida: Enterro amanhã. Sentindos pêsames".
Isto não quer dizer nada. Talvez tenha sido ontem.
   O asilo de velhos fica em Marengo, a oitenta quilômetros de Argel. Tomo o autocarro das duas horas e chego lá à tarde. Assim, posso passar a noite a velar e estou de volta amanhã à noite. Pedi dois dias de folga ao meu chefe e, com um pretexto destes, ele não me podia recusar. Mas não estava com um ar lá muito satisfeito. Cheguei mesmo a dizer-lhe "A culpa não é minha". Não respondeu. Pensei então que não devia ter dito estas palavras. A verdade: é que eu não tinha que me desculpar, ele é que tinha de me dar pêsames. Mas com certeza o fará, depois de amanhã, quando me vir de luto. Por agora é um pouco como se mamãe não tivesse morrido. Depois do enterro, pelo contrário, será um caso arrumado e tudo passará a revestir-se de um ar mais oficial."

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